[Entrevista] Marcela Lima, atleta da nova geração do MTB

Um dos expoentes da nova geração do MTB brasileiro, Marcela Lima segue pedalando firme em busca de seus objetivos.

Atualmente integrando a equipe Caloi Avancini Team, a mineira de 19 anos, apesar da pouca idade, já é dona de uma coleção respeitável de títulos, entre eles, os de campeã da World Cup XCE st7, vice-campeã brasileira e campeã mineira.

De personalidade forte e decidida a conquistar o título de campeã do mundo, ela fala na entrevista a seguir sobre sua rotina de treinos, o que pensa sobre o atual cenário da modalidade, além de compartilhar dicas para quem está iniciando no MTB.

Marcela, hoje você está com 19 anos de idade. Quando percebeu que seu negócio era Mountain Bike?

Percebi aos 16 que era realmente o esporte que gostaria de me dedicar. Comecei a competir nessa idade. Fui ginasta artística e por motivos de estudo tinha parado de treinar, até que a greve da minha escola me estimulou a procurar outro esporte, foi assim que iniciei no Mountain Bike.

E qual foi o estímulo para começar a competir?

Comecei por influência do meu treinador da época.

Você passa muito tempo em cima da bike todos os dias?

Sim, treino seis dias na semana, de uma a três sessões.

Você acha que o MTB exige muito sacrifício por parte do atleta?

O Mountain Bike é um esporte maravilhoso, que te aproxima da natureza e com seu próprio ser; o sacrifício vai de cada pessoa, devido a suas condições e objetivos. Para mim, nada surge como sacrifício e sim por puro prazer.

Marcela Lima como monitora do Projeto Bicitur (UFOP)
Marcela Lima como monitora do Projeto Bicitur (UFOP)

Como é o seu treino antes das competições?

Depende da competição, mas geralmente a carga é reduzida, porque o estímulo da competição é geralmente maior que os treinos. Por isso, para equilibrar a semana e me poupar para a prova, a carga é reduzida.

Prefere treinar sozinha ou em grupo?

Prefiro treinar em grupo, mas com a dificuldade em encontrar pessoas com o mesmo treino acabo frequentemente indo sozinha.

Existe algum prêmio que você já ganhou que considera o mais importante de todos?

Ser campeã da etapa da Copa do Mundo de XCE. Pois fui a primeira atleta da América Latina a ganhar uma etapa da Copa do Mundo de XCE.

Campeã na Copa do Mundo de Eliminator (Foto: Marcelo Rypl / CIMTB)
Campeã na Copa do Mundo de Eliminator (Foto: Marcelo Rypl / CIMTB)

E qual é o que você mais sonha em conquistar?

O meu sonho é ser campeã mundial.

Quais são as suas metas no esporte até 2020?

Como atleta quero me construir para ter performance na Elite.

Qual foi a melhor experiência que você já viveu em cima de uma bike?

Disputar a copa do Mundo de XCO em Nove Mesto, na República Tcheca, neste ano (2019).

E a pior?

Não tenho.

Que características você considera fundamentais para vencer provas?

A certeza de que você é capaz de vencer!

Projeto Base dos Campeões
Projeto Base dos Campeões

Você esteve agora na Copa do Mundo de Mountain Bike em Albstadt, na Alemanha. Fez alguma preparação diferente para essa prova?

Fiz sim, mas a prova está no meu processo de preparação para a construção da minha performance e crescimento deste ano. As expectativas foram alcançadas, a mala voltou cheia de aprendizados e experiências que estão agregando muito à minha carreira.

Quais são as dificuldades de ser uma atleta profissional de MTB no Brasil?

Acho que o mais difícil é o caminho até a profissionalização, o Estado Brasileiro não investe no Mountain Bike, por isso o acesso é restrito e de iniciativa privada, o que torna mais difícil a jornada de quem gostaria de se tornar um atleta profissional. Agora, falando sobre as dificuldades de um atleta profissional, o seu reconhecimento como profissional é desvalorizado por pessoas que não são do meio, por não necessitar de diplomas. Além de que o esporte exige dedicação exclusiva e prioritária, fato que leva todos os outros aspectos da vida se formarem através do seu compromisso com seu desempenho. E a principal dificuldade que vejo é o fato de ser uma profissão que dura poucos anos.

Você acha que o cenário do MTB é muito “masculino” ainda? Já sofreu algum preconceito ou já se sentiu menos valorizada do que atletas do sexo masculino só pelo fato de ser mulher?

Sim, o cenário ainda é muito masculino e o preconceito ainda está enraizado. As mulheres têm dificuldades desde a introdução até o alto nível, pois são consideradas mais frágeis para um esporte considerado de risco. Há dificuldade em efetuar os treinos sozinhas e são tratadas de maneira desigual até mesmo em cenário mundial. Entretanto, estamos vivendo uma progressiva evolução e tenho esperanças de que cada dia este cenário fique melhor.

A premiação para homens e mulheres é a mesma?

No ano passado a federação mineira aprovou a lei de que todas as provas filiadas à FMC deveriam ter o mesmo prêmio. Esse fato mudou muito o quadrante de Minas Gerais, mas ainda há provas com premiação desigual, fato esse sem justificativa plausível e totalmente incoerente, na minha opinião.

Como você vê o cenário de MTB no Brasil e no exterior? E fora daqui? Quais as diferenças e como poderíamos melhorar?

O Mountain Bike na Europa é enraizado. Você vê crianças fazendo coisas que atletas de elite no Brasil não fazem.  Isso faz parte da cultura deles, as crianças treinarem, os adultos praticarem. Junto à toda estrutura oferecida, esse fato faz atletas melhores, competições melhores, equipes melhores. O Brasil está evoluindo, mas ainda falta muito investimento para que cresça mais. Por isso é necessário um esforço de todos para que mais crianças sejam incentivadas a iniciarem no esporte, e que mais lugares e ambientes propícios para treinos sejam criados.

Hoje você é uma atleta Caloi Avancini Team. Qual é a importância de contar com um patrocínio desses e quais vantagens esse patrocínio te possibilita?

Ter a estrutura de equipamentos e profissionais preparados abre novos caminhos e viabiliza possibilidades que você pode usar para sua evolução.

Você vive do esporte, certo? Diria que é possível viver do MTB no Brasil?

Sim, é possível.

Agora, vamos falar com quem está começando. Quais são as suas dicas para iniciantes?

Sou suspeita para falar, mas considero o Mountain Bike um dos esportes mais incríveis que existem. Ele gera uma superação diária, e isso é o que mais motiva aqueles que praticam. Por isso, minhas dicas aos iniciantes é que usem equipamentos de segurança, respeitem seus níveis, aumentem a carga aos poucos, se não se sentirem seguros iniciem primeiramente no asfalto para depois ir para as estradas e trilhas, pedalem com os amigos e, principalmente, desfrutem de cada momento desse esporte maravilhoso.

Que mensagem você gostaria de passar para as meninas que sonham em alcançar ótimos resultados como você no MTB?

O que mais importa e faz diferença em um atleta é a sua vontade. Por isso, se tem um sonho, alimente-o, pois só assim você conseguirá alcançar seus objetivos. Você é a única pessoa que pode construir o seu caminho.